sábado, 3 de abril de 2010

Páscoa, o lado avesso da pele...



E estamos na Páscoa, mas afinal, qual o sentido dela pra você heim?
Recebi esse texto em minha aula de filosofia, achei interessante, principalmente no que diz respeito a sermos seres relacionais e racionais, mas fomos reduzidos a seres extrofiados...
resolvi que precisava compartilhá-lo...então, se você puder, leia-o...

Páscoa, o Lado avesso da pele

Uma das características da pós-modernidade é a redução da cultura a mero entretenimento e a exacerbação dos sentidos em detrimento da razão e do espírito. Para estimular o consumismo, utilizam-se como isca recursos capazes de nos fazer sentir mais e pensar menos. Isso vale para a publicidade, certos programas televisivos e até rituais religiosos.

Dissemina-se uma cultura centrada no epidérmico, na qual há mais estética que ética, nádegas que cabeças, urros que melodias, ambições que princípios, devaneios que utopias. Tudo é aqui e agora, a ser devorado por olhos e ouvidos, o corpo entregue a um frenesi de sensações que faz do prazer e do sexo simulacros da felicidade e do amor.

Seres relacionais e racionais, como acentuam os filósofos desde Sócrates, somos agora reduzidos a seres extrofiados, revirados para fora, estranhos a nós próprios, como lamentava Kierkegaard, pois nossa auto-estima passa a depender do que vem de fora da gula e da antropofagia visual aos arremedos de fama, fortuna e poder.

Páscoa significa travessia, passagem. Talvez uma das mais difíceis é a que nos faz percorrer o caminho entre a epiderme e a vida interior, não para dualizar polaridades, mas para resgatar a unidade. O budismo tibetano tem razão ao afirmar que, malgrado todo avanço científico e tecnológico, cada pessoa é ontologicamente a mesma desde que o símio tomou consciência de que o galho de árvore em sua mão poderia servir-lhe de arma de ataque e de defesa.

Aristóteles sintetizou-nos em esferas sensitiva, racional e espiritual, como unidade que exige equilíbrio. A exacerbação de uma resulta na atrofia das outras. Só a predominância do espiritual é capaz de imprimir sensatez "às loucas da casa", como diria o poeta, evitando o sabor de náusea dos sentidos, descritos por Sartre, bem como o racionalismo que, ao contrário de Tomás de Aquino, julga equivocadamente que a razão é a suprema expressão da inteligência.

Fazer Páscoa em si mesmo é cultivar a subjetividade. "Beber do próprio poço", sugerem os místicos. Desnudar-se de ilusões egocêntricas, jejuar os sentidos, adequar a razão a seus limites, orar e meditar para poder contemplar.

Somos seres vocacionados à transcendência. Como dizia Hélio Pellegrino, uma samambaia desfruta de sua plenitude vegetal. Nós, não; escravos do desejo, temos buracos no corpo e na alma. É a "gula de Deus", da qual falava Rimbaud.

Ao deixar de trilhar as veredas que conduzem ao Absoluto, corremos o risco de nos perder no acidentado terreno que cotidianiza o absurdo: iras e mágoas, inveja e competição, medo e, sobretudo, uma incômoda sensação de não saber exatamente o que fazer desse breve período de existência.

A Páscoa é precedida de morte que, emblematicamente, a tradição cristã qualifica de paixão, um ato de amor, de entrega, que faz refluir tudo aquilo que dispersa, aliena e ilude.

Jesus no túmulo simboliza o silêncio, a volta ao mais íntimo de si mesmo, abraçar a solidão sem se sentir solitário. Ressuscitar, renascer na ousadia de assumir valores altruístas e empenhar-se para que a justiça seja o fundamento da paz.

Tudo que existe pré-existe, subsiste e coexiste. É Universo, e não pluriverso. Comunhão e luz. Não é em vão que os orientais chamam o centro energético do nosso ser, lá onde se situa o coração, de plexo solar. O silêncio das galáxias no infinito é um convite para que se saiba fechar os olhos para ver melhor. E descobrir, no âmago de si, a presença amorosa de Deus, que impregna o lado avesso da pele e ansia fluir por todo o corpo, palavras e atos, de modo a fazer de nós seres vitalmente pascais, cuja existência coincida com a sua essência.

Frei Betto

2 comentários:

  1. Ao que subentende-se do texto, a reflexão q nos propõe julga o dia como aquele o qual ñ temos de fato o afeto q deveríamos ter, o q o torna-o superficial em diferentes aspéctos, mas ñ como um todo.
    Eu por um lado viso tais épocas (assim como em outras festividades), como desculpas para devaneios e sinais de afetividades desencorajados em outrora. Mas não digo q seja um dia ruim, de fato, se o julgarmos como um clichê hipócrita, estaremos esquecendo do sentimento que o dia deve ou deveria proporcionar as pessoas.
    Enfim, a páscoa é isso, e todos os outros dias festivos de cultura social, aproximam, ou não, as pessoas de algum modo.

    Belo blog o seu ;]

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  2. Como o Rodrigo comentou, a pascoa como as outras festividades religiosas aproximam as pessoas, no entando a páscoa é mto mais q uma aproximação e sim um momento para q possamos refletir sobre todas as coisas q cometemos em nosso dia-a-dia, refletir q ele se entregou a uma cruz para pagar todos os nossos pecados, e nós deveriamos nos colokar no lugar dele pelo menos nessa data, no qual simplismente devemos pedir perdão á todas as pessoas q nós magoamos e nos colokar-mos em uma cruz para q como ele pagar os nossos pecados msm se for com sofrimentos.
    By: Flá Nalesso
    PS:Day adorei o seu blog :)

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